Belém,
dia 04 de Maio/2015 16h43min. À tarde, antes ensolarada e alegre, começou a
perder o seu brilho natural na medida em que nuvens prenunciadoras de aguaceiro
que se avizinhava mostravam sua carranca, encobrindo os raios solares.
Pássaros felizes percorriam o quintal da casa de minha vó,
penetrando por entre folhas da árvore de acerola e aninhando-se em seu galhos
sinuosos.
Ficava admirar como aquelas aves pareciam um grupo de
crianças felizes a brincar com os presentes favoritos.
Contudo, a natureza deu prosseguimento ao vento cada vez
mais forte que arrancava folhas envelhecidas da acerola e fazia curvarem
submissos os galhos mais frágeis.
Uma grossa gota aqui, outra acolá e a chuva despencou do
céu como um objeto que, não tendo mais nenhuma sustentação, era submetido à lei
de gravidade.
Durante uma hora a chuva caia sobre aquele local,
impiedosamente, enquanto trovões e raios corriam o espaço do céu.
Dentro do meu lar (na janela do quarto) protegido com
segurança, pensava nos pobres pássaros submetidos à intensidade do vento e da
chuva. Como deveriam estar se sentindo ao relento e quase sem nenhuma proteção?
Passado o temporal, o sol tornou a sorrir na majestosa
altura, com luz e calor com que abraçava aquela pequena área do meu quintal.
Continuava a pensar o que poderia ter acontecido com as
aves antes tão sonoras em seu canto alegre depois daquele chocalhar intenso do
tempo. Deveriam estar aflitas sem ninho abatido pelo forte vento.
Mal acabara de pensar nelas e eis que varias, trinando
alegremente os sons que caracterizavam no reino animal, começaram a voar
novamente de um lado para o outro. Da cabeceira da alta cerca mergulhavam em
vôo rasante, apanhando aqui e ali um pequeno fragmento de alimento que havia
deslizado sobre o solo encharcado pelas águas.
Abriam as pequenas asas para recolher, num abraço
saudoso, o calor do momento, como se todas as coisas daquele instante para
frente fossem ficar melhores. Voltavam a mergulhar no ar no bailado renovado de
esperança...
Para pensarmos.
Será possível considerarmo-nos menos merecedores da
atenção de Deus do que aqueles pequeninos pássaros após a tempestade?
É claro que concluirá comigo: que não!
A diferença entre nós e os pássaros, os quais continuavam
a voar alegremente após a tempestade que lhes devastar os ninhos e destroçara
os galhos das arvores por onde brincavam, é que eles, os seres pequeninos da
criação, após a revolta das águas, continuam confiando na vida que jamais
cessa. Cantavam pela vida que lhe lhes fora poupada, pelo retorno do sol abençoando
lhes a saúde, pelo solo encharcado que responderá com novas vegetações que lhes
proporcionarão novas fontes de alimentação, pelo arvoredo que ficaram como
promessas de abrigo.
A
tempestade é o prenuncio da calmaria.
As
nuvens que ocultam temporariamente a luz do sol são banidas pelos mesmos ventos
que as trouxeram.
As
águas que destroem, ao mesmo tempo fecundam o solo para colheita.
O
vento que chicoteia é mesmo que higieniza a atmosfera.
Ai
esta, meus amigos , mais uma reflexão da
natureza, que, na maioria das vezes, passa despercebida.
Eduardo Campos