
Antes só que mal acompanhada
Está sozinha? Muitas mulheres preferem a solidão a homens errados
Responda rápido: você está satisfeita com a qualidade do seu relacionamento? Se a resposta foi 'sim', considere-se sortuda! Primeiro, porque não é fácil tirar a sorte grande no amor. Depois, porque você encontrou o meio-termo entre as reclamações e os elogios, coisa difícil de se ver por aí atualmente. No entanto, se você respondeu 'mas eu nem estou em um relacionamento', não se desespere e junte-se ao clube: cada vez mais mulheres estão neste barco.
Será que estamos cansadas dos homens? Desistimos? Não é bem assim. Até o meio do século passado, meninas eram educadas para se tornarem boas moças: educadas, simpáticas e... casadas. Principalmente no Brasil, a participação feminina no mercado de trabalho era restrita e a maior satisfação das mulheres era ter um marido carinhoso e uma linda família. E, se ele não fosse assim, tão carinhoso ou atencioso, as falhas eram perdoadas, 'afinal, ele trabalha tanto, passa horas naquele escritório'.
“Enquanto você se dedica a uma pessoa que não é nada do que gostaria, as que poderiam interessá-la de fato passam do seu lado e você nem nota” pois é, hoje os tempos são outros.
A vida é corrida e o sexo feminino trabalha como nunca antes. Aliás, trabalha, se estressa, critica e quer mais, muito mais. O quesito 'relacionamento' teve sua importância amenizada (mas nunca apagada!) e ainda assim é top no rol de itens dos quais reclamamos. Mas temos razão?
Sim e não. Ao mesmo tempo em que os homens andam preguiçosos, as mulheres estão intolerantes. É conflito na certa! A antropóloga Mirian Goldenberg, professora da UFRJ e autora de "Infiel: notas de uma antropóloga", critica esta característica, mais comum nas moçoilas: "O homem quer, acima de tudo, compreensão. E só encontra mulheres profundamente insatisfeitas, que reclamam o tempo todo. A compreensiva acaba sendo uma raridade e muito valorizada por eles, que querem paz e sossego", afirma.
Sim e não. Ao mesmo tempo em que os homens andam preguiçosos, as mulheres estão intolerantes. É conflito na certa! A antropóloga Mirian Goldenberg, professora da UFRJ e autora de "Infiel: notas de uma antropóloga", critica esta característica, mais comum nas moçoilas: "O homem quer, acima de tudo, compreensão. E só encontra mulheres profundamente insatisfeitas, que reclamam o tempo todo. A compreensiva acaba sendo uma raridade e muito valorizada por eles, que querem paz e sossego", afirma.
Mulheres (Im)perfeitas
A verdade é que a mulher está passando por um momento confuso na sociedade. Ela tenta se firmar como profissional competente, manter as amizades, sociabilizar, ser independente e ativa e também construir uma família. Ela quer tudo e sem imperfeições. O problema é que muitas assumem tamanha carga por se sentirem culpadas. A herança cultural ainda tem um peso muito grande e a mulher que decide não formar uma família é mal-vista. Então, ela hesita. E mesmo tão decidida, acaba não sabendo o que quer.
Isto origina situações dúbias, como a de mulheres seguras e confiantes que desenvolvem medo de tomar a iniciativa para não serem taxadas de fáceis. Ou outras que não resistem à pressão da sociedade e emendam relacionamentos sem significado, só para não ficarem sozinhas. A jornalista Leila Ferreira, autora de "Mulheres. Por que será que elas...?", diz que este segundo caso é bem comum. "Isso acaba sendo uma cilada. Enquanto você se dedica a uma pessoa que não é nada do que gostaria, as que poderiam interessá-la de fato passam do seu lado e você nem nota", comenta.
Com isso, um eterno ciclo é formado: elas reclamam das características dos namorados e tentam transformá-los; eles se irritam e fazem questão de não mudarem, quando no fundo elas deveriam perceber que estão naquele relacionamento pelos motivos errados. "Não digo que a gente deva esperar pelo príncipe encantado. Existe uma frase da (cantora) Cher que é perfeita: 'Enquanto o homem certo não aparece, vou me divertindo com os errados'. Mas se divertir é uma coisa, investir numa relação que não nos preenche é outra bem diferente", complementa Leila.
Que o diga a professora Camilla Rezende. "Cresci com minha mãe separada, tomando decisões sozinha e via as mães das minhas amigas dependendo dos maridos para tudo. Jurei que nunca seria assim, até que conheci o Leandro". Vocês já imaginam o final desta frase, não? Apaixonada e empolgada com seu primeiro relacionamento sério, Camilla se deixou levar. "Ele era machista e fui abrindo mão das coisas aos poucos. Parei de sair com amigas, colegas da faculdade. Mas no início não me importava. A situação foi piorando quando ele começou a criticar minha forma de ser e dizer que eu não seria uma boa esposa, só porque eu não gostava de arrumar o quarto. Um absurdo!", reclama.
Assim como Camilla que, garante, não adotará mais tal postura da próxima vez, cada vez mais mulheres optam por se imporem logo de cara e mostrarem como realmente são. E se ele não gostar, até logo. "Hoje minha vida é corrida. Trabalho muito e lido com o corpo, tenho que me preservar. Normalmente, não saio às quintas, nem sextas ou tampouco aos domingos. Relações acabam sendo incompatíveis. Não sou de ficar, já passei da fase do momentâneo e também não quero perder meu tempo, prefiro me divertir com meus amigos, pessoas com gostos em comum", conta a professora de dança Kelly Diane.
“Na verdade, o melhor não é procurar e sim, encontrar. Volte-se para as próprias realizações e amizades. As mulheres centradas em suas vidas acabam encontrando mais e melhores parceiros”
A advogada Cristina Dutra faz coro. "Optei por me manter solteira devido ao meu estilo de vida. Além disso, tenho ótimas relações com meus amigos, que me fazem companhia. Vivo o que a vida me dá e estou bem satisfeita", afirma. Este discurso tão direto, apesar de honesto, acaba assustando vários homens que não lidam bem com esta nova imagem feminina. E será que é um comportamento saudável? "Não existem garantias no terreno amoroso. Querer investir só naquele que tem todas as chances de dar certo é uma ilusão. Só com muita sorte a gente acerta de primeira. Faz parte quebrar a cara algumas vezes até que o Mr. Right apareça", esclarece Leila Ferreira.
Só que muitos homens não podiam estar mais longe de serem o tal Senhor Perfeito, e alguns têm mesmo uma parcela de culpa do cartório no quesito formação de solteiras convictas. Maura Souza relata seus contos nada de fadas: "Desde adolescente, sempre fui muito independente. Comecei a trabalhar cedo como esteticista e não pensava em encontrar o homem ideal; apenas alguém que valorizasse a relação e me apoiasse. Mas me deparei com uma sucessão de homens que não me respeitavam e até vantagens financeiras tentavam ter", desabafa.
Aprecie com moderação
Mirian Goldenberg dá a sua opinião. "Existem inúmeros tipos de homens no mercado. Muitos não fazem esforço, pois pensam que há mulheres sobrando, desesperadas por terem um par. Porém, existem os atenciosos, respeitosos, delicados e muito carinhosos. É só procurar bem e não aceitar qualquer um. Na verdade, o melhor não é procurar e sim, encontrar. Volte-se para as próprias realizações e amizades. As mulheres centradas em suas vidas acabam encontrando mais e melhores parceiros", pondera.
Definitivamente, a palavra é equilíbrio. Não exigir tanto, não ceder tanto. E reclamar muito, muito menos. Aceitar as imperfeições do outro, mas principalmente, reconhecer as suas. "Já não somos Amélias, mas também não precisamos ser a chamada "bitch", intratável, impossível de se conviver", finaliza Leila Ferreira. A conclusão que se pode tirar é que não há mocinhos nem bandidos: no jogo do amor somos todos aprendizes em busca de prazer e alegrias. E que seja eterno enquanto dure.
FONTE: ANA BRASIL