Existe
uma ênfase no mundo empresarial para as questões da comunicação. Isso se
justifica, uma vez que os grandes administradores já se atentaram para a
prioridade na gestão de pessoas e métodos para uma comunicação eficiente,
visando a maior lucratividade.
Chefes,
subordinados e afins precisam se comunicar bem, calmamente, objetivamente, sem
infantilizações ou ataques de cólera, afinal não existe quem queira perder o
emprego ou o possível lucro por causa de uma frase mal formada ou mal falada.
Ademais, a “máquina” precisa funcionar com eficiência, sob risco de se
enfraquecer diante das crises que, vez ou outra, aparecem por aí. Cliente
sempre tem razão e a organização precisará caminhar saudável, forte e plena,
sem brigas internas, nem cisões alarmantes.
Mas,
tanto aqui como em outros pontos cruciais da sociedade, o que vemos não é uma
alteração de comportamento nas questões da comunicação, surgida por conta de
uma mudança emocional, mas apenas adaptativa, circunstancial, por interesse
material. “Sou polido onde preciso ser, já em casa, posso ser quem sou”, dizem
alguns.
O
problema nesta forma de pensar é que a infelicidade chega a galope. Não conheci
nenhuma pessoa realmente feliz porque conseguiu manter o emprego sem dar conta
de instituir relações saudáveis em casa.
Aliás,
sob o ponto de vista familiar, raramente encontro aqueles que se comunicam com
eficiência e maturidade, e os resultados são negativos, quando não, caóticos.
Tenho visto maridos
entrando na caverna, acuados, enquanto esposas falam e choram suas mágoas para
as paredes. Filhos usando a internet como cordas vocais, mas em silêncio
absoluto na mesa da sala de jantar, como estranhos que, “por uma coincidência”
necessitam dividir uma mesa de fast food, na lanchonete da esquina.
Celular
virou pop star na sala, na cozinha, no banheiro e nos quartos. Muito mais
interessante que a própria TV – a mais antiga rival dos papos em família. Será
que o problema está no “maldito” aparelho ou na forma como nos comunicamos
quando acaba a bateria? Se preferimos as milhares de postagens com frases
clichês e imagens bonitinhas deve ser porque elas nos falam justamente sobre
nossas crises e carências, confirmando nossa dor solitária, embora coletiva.
Rubem Alves já dizia que “cada época fala sobre aquilo que lhe falta”. É isso.
Seja
nos papos intermitentes de cotidiano ou quando decidimos por uma D.R. (discutir
a relação, como se fala na “gíria” atual) o que geralmente se vê são jogos
emocionais que acontecem através de modos diferenciados e criativos. Os
diálogos (quando existem diálogos) não servem para comunicar algo sobre os
sentimentos, percepções ou considerações outras, mas para manutenção das
defesas e posições. Por vezes, desejamos muito mais atacar, manipular ou nos
defender, que informar.
Fazer
fofocas, rotineiramente, pode indicar uma busca de alivio de consciência.
Quando falamos mal dos outros queremos dizer que somos melhores que eles,
quando não desejamos encobrir o que temos de igual ou pior que estes tais a
quem nos referimos.
Choros
e muxoxos durante a comunicação sugerem uma regressão à infância com clara
tentativa de manipulação, pois quando crianças nos acostumamos a usar destes
recursos para convencer os adultos a realizarem nossas vontades infantis.
Silêncios
na fala com expressões de desagrado na face [tão comum entre casais] é um tipo
de ‘comunicação manca’, que chega muito mais para testar se a bola de cristal
do outro é eficiente do que realmente informar algo relevante. O “comunicante”
está mais preocupado em imputar uma culpa ao outro por sua incapacidade
premonitória, que ajeitar uma situação de forma adulta.
Gritos
coléricos são o resultado de emoções ligadas ao medo e à posse.
Dizem
por aí que os gritos só chegam quando já perdemos os argumentos. No fundo,
parece ser muito mais um ato de desespero que de comunicação.
Ironias
descabidas servem para tentar informar que aquele que está ironizando é bem
mais inteligente, esperto ou bondoso que o receptor da mensagem, quando na
verdade, traz em sua estrutura básica, toques de sadismo. Quem quer dizer que a
postura do outro não está sendo adequada pode e deve falar com empatia, sem
provocações, pois os resultados das ironias são tão deficientes quanto os
outros acima expostos.
Comunicação
que comunica é aquela que usa de coerência, assertividade, calma e didática.
Não fala mais que o necessário [e o suportável], não grita nem fere, mas
informa e inclina, com o poder da paciência. Sai de uma boca para outros
ouvidos com a clara intenção de buscar mais soluções que culpados; mais
equilíbrio que desarmonia; mais compromisso que ruptura. Tem a empatia na base
de seus argumentos.
Aliás,
um ponto central na teoria da Comunicação Não-Violenta, proposta pelo Psicólogo
Marshall Rosenberg, em seu livro de mesmo título, é de que precisamos resgatar
o que há de mais genuíno no outro: suas emoções, sua força criativa, seu lado
humano e bom, através de uma empatia real, nascida não na forma como nos
comunicamos (aqui já falamos do efeito), mas de nossa intenção sagrada de
ajudar. A comunicação, por conseqüência, será eficiente e positiva, porque
pautada na força irresistível da compaixão.
No
prefácio da obra citada, Arun Gandhi, neto de Mahatma Gandhi e fundador do
Instituto Gandhi pela Não-Violência, explica que “A não-violência significa
permitirmos que venha à tona aquilo que existe de positivo em nós e que sejamos
dominados pelo amor, respeito, compreensão, gratidão, compaixão e preocupação
com os outros em vez de sermos pelas atitudes egocêntricas, egoístas,
gananciosas, odientas, preconceituosas, suspeitosas e agressivas que costumam
dominar nosso pensamento.” Resumidamente é, entre outras coisas, nos
comunicarmos usando o que há de melhor em nós, deixando de lado defesas, medos,
angústias ou outros problemas do nosso ego engessado.
Muitas
pessoas passam uma vida inteira se comunicando de maneira equivocada ou até
mesmo violenta, sem que se darem conta disso, transformando o mundo interno e
externo em um verdadeiro campo de guerra. E isso se amplia no campo social, no
macro, logicamente.
Por
fim, considero que “comunicar comunicando” [e solucionando] é, por fim, uma
arte. Aquele tipo de arte que se aprende [e que precisamos exercitar ao longo
da vida!] com boa dose de compaixão, usando o pincel do bom senso e as tintas
do bom humor.
E tenho dito!
¹ Fundador e Autor do Blog: Eduardo
Campos, Técnico em Gestão Pública: Pedagogo, Esp. em Docência do Ensino Superior
– PROEJA e Educação em Saúde. Pesquisador do Grupo de Estudo e
Pesquisa em Educação do Campo na Amazônia-GEPERUAZ/UFPA
² Fonte texto : R M E -
³ Fonte imagem : http://www.intercambio7.com.br/sims-e-naos-para-seu-intercambio.jpg
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