Relacionamento de bolso: a lógica do consumismo aplicada ao amor
Falaremos sobre relacionamentos descartáveis, uso e desuso das pessoas como se fossem mercadorias. O apego às coisas e o desapego às pessoas são características dessa época, marcada pelo consumismo.
Prof. Juan Daniel
O capitalismo veio para ficar. Depois da queda do Muro de Berlim e com ele o fim das utopias sociais, e o fim das esperanças num futuro promissor, o capitalismo reina soberano.
Percebe-se não somente a avidez de uma sociedade consumista que reafirma seus valores no material e no transitório, mas também que esta falsa ideologia está produzindo uma conduta baseada numa lógica do uso e do descarte.
O termo “relacionamento de bolso” se refere a ação de usar um objeto, guardá-lo e dispor dele quando se precise. Esse novo conceito, produto da tendência capitalista, prega a felicidade por antecipação, a ideia de que você pode possuir, adquirir, comprar, vender, consumir, e quando necessário, descartar o objeto, sempre quando perceber que o “produto” não agradou!
O amante-consumidor, ao mesmo tempo que é consumidor, pensa também que é dono da relação, e age como proprietário do outro, acha que tem direito sobre “o produto” adquirido, consumindo sexo e se divertindo como se estivesse em bom restaurante requintado de qualquer shopping center da vida, e quando percebe que o relacionamento está causando indigestão, sai à procura de outro (atraído) pelas ofertas nas mesmas vitrines deslumbrantes do referido shopping center da vida, sem se preocupar com o sentimento do outro.
Esse fenômeno amor/consumo tem duas faces. A primeira face é o “ficar”, o qual pode ser descrito como um relacionamento que não tem prazos, pode durar algumas horas, uma noite, uma semana, e desse tipo de relacionamento pode surgir o namoro. Contudo sem envolvimento sentimental, dedicação ou comprometimento. O fato de estar “ficando” com uma pessoa não impede de “ficar” com outras pessoas, justamente pelo fato de não existir compromisso.
“Motivados pela sociedade de consumo de bens materiais ou emocionais, os jovens saem às ruas em busca de quantidade, e não de qualidade”. Querem contabilizar quantas vezes "pegam" ou "ficam" com alguém, traduzindo, em números elevados, a miséria afetiva de seus corações.
Têm medo de amar, de sofrer, de se decepcionarem ao descobrir que o outro não lhes traz a garantia da tão desejada felicidade. Por isso se usam, mantendo a relação em seus níveis mais superficiais, visando apenas o esvaziamento imediato da tensão libidinosa, tendo como objetivo apenas o prazer físico. (Meirelles,2007).
A segunda face é o “desficar”. Um relacionamento light, semipresencial, baseado na conveniência. Nem juntos nem separados. A questão básica na relação “nem vai nem fica” tem uma simples razão: seus protagonistas acham que conviver juntos e por tempo indeterminado torna-se um peso para os dois. Chega-se então ao acordo que devem morar separados e se juntarem quando houver consentimento.
CONSUMIR x AMAR
UM CASAL MODERNO vive nessa dinâmica do consumo: Namoro, viagens, compras, shopping centers, diversão, aventuras e muito sexo. Para logo se separar! Aproveitam, vivem intensamente e se curtem. Contudo, sem compromissos mais sérios, sem laços permanentes, sem amor e sem perspectiva do futuro. Somente a sensação de gozar aqui e agora. Felicidade e amor eternos ficam para os contos de fada! “E assim é numa cultura consumista como a nossa, que favorece o produto pronto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea, resultados que não exijam esforços prolongados, receitas testadas, garantidas de seguro total ou devolução do dinheiro.” (Bauman, 2001,21)
Somando todos os investimentos na relação efêmera, os amantes-consumidores avaliam a relação, e tiram como saldo positivo as aventuras vividas juntas. Sem traumas nem culpa, o que realmente importou foi a diversão. Contudo ninguém nega, que no íntimo, os amantes- consumidores sentem um vazio existencial e o medo da solidão.
Por que isso acontece? Suspeita-se do alto grau de narcisismo que nossa sociedade está vivenciando. Uma espécie de “retrato de Dorian Grey”, no qual o personagem principal, de notória beleza e inteligência, tem uma excessiva admiração por si mesmo e que não deseja outra coisa na sua existência do que conservar-se eternamente jovem, tal qual retratado no seu quadro. Carente de afeto e admiração e possuído de desejos desenfreados, Grey vive sua eterna juventude narcisista e hedonista, contudo esconde sua alma podre!
Talvez seja essa a razão de que a máxima hoje é: “eu mereço ser feliz”. Tudo se volta para os caprichos do ser narcisista! Demanda eficaz, rápida, urgente, em busca da felicidade. Tudo gira em torno do universo “Egocêntrico” dos indivíduos narcisistas. Não sobra nada para os outros. O paradigma que está se consolidando é:” eu.com“.
Não assusta pensar que todo sentimento que alguém tem por você tem prazo de validade? Não é aterrador pensar que você pode chegar a ser apenas um “objeto” num dado relacionamento? E onde fica o amor verdadeiro? Você se sente segura no atual relacionamento? Se tudo está condicionado a essa lógica egoísta e pragmática, isso significa o fim das relações duradouras?
Bom, não devemos ser pessimistas, mas devemos admitir que está cada vez mais difícil se relacionar. A tensão sempre vai existir entre o desejo e o amor. E como pessoas maduras, devemos decidir o que queremos para as nossas vidas.
ENTRE O DESEJO E O AMOR
O desejo é o que atrai e ao mesmo tempo repele. Pois ao se desejar um produto, faz-se todo esforço possível para satisfazer o desejo de posse. Com os mais variados objetivos: status, satisfação pessoal, ostentação, impulso. Caso o produto não agradou ou veio com defeito, o consumidor o rejeita. Os símbolos refletem uma relação de poder. Ter é poder.
O amor, por outro lado, é a vontade de cuidar, de preservar e agradar o ser amado. Age como força centrífuga, impulso de expandir-se, ir além, projetar-se em direção ao outro. Se pelo desejo a pessoa quer possuir, pelo amor quer cuidar e proteger. E com relação ao desejo de subjugar, escravizar, aniquilar, consumir, anular, cercar, são jogos do poder. No verdadeiro amor não existem armas, somente humildade, bondade, paciência, e a alegria com ver o outro feliz.
A felicidade, o amor verdadeiro, a alegria de compartilhar a vida com o parceiro, numa relação de compromisso, aceitação, cuidado e dedicação mutua, não existe mercantilização!
Só ama de fato quem vence as barreiras do egoísmo, dos interesses pessoais, do orgulho, do status, do desejo de posse. Vale aqui ressaltar as palavras do filósofo cristão Paulus de Tarsus, as quais contrastam drasticamente com nossa época:
“Quem ama é paciente e bondoso. Quem ama não é ciumento, nem orgulhoso, nem vaidoso. Quem ama não é grosseiro nem egoísta; não fica irritado, nem guarda mágoas. Quem ama não fica alegre quando alguém faz uma coisa errada, Mas se alegra quando alguém faz o que é certo. Quem ama nunca desiste, porém suporta tudo com fé, esperança E paciência. O amor é eterno.”
¹ Fundador e Autor do Blog: Eduardo Campos, Técnico em Gestão Pública: Pedagogo, Esp. em Docência do Ensino Superior – PROEJA e Educação em Saúde. Pesquisador do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação do Campo na Amazônia-GEPERUAZ/UFPA
² Fonte texto : Prof. Juan Daniel © obvious: http://obviousmag.org/sensusagape/2015/03/relacionamento-de-bolso-a-logica-do-consumismo-aplicada-ao-amor.html#ixzz3xbDQetmX
³ Fonte imagem : http://www.intercambio7.com.br/sims-e-naos-para-seu-intercambio.jpg
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