Como é difícil criar um filho não machista em um mundo
machista
"Amarrem as
cabras, porque os bodes estão soltos!"
Rita Lisauskas
Eu já tinha dois enteados quando fiquei
grávida. E quando descobri que o bebê que esperava também era um menino, achei
que estava preparada para o desafio de colocar mais um garoto nesse mundo. Mas
não estava. E só descobri isso depois de ouvir o primeiro comentário machista,
quando ainda contávamos sobre a gravidez e o sexo do bebê: “Mais um macho na
família ! Amarrem as cabras porque os bodes estarão soltos!”
Achei de péssimo
gosto. E a ficha caiu. O machismo não oprime apenas as meninas. Também atinge
os meninos em cheio.
O guri nasceu, mal
falava gugu dadá e já era cobrado: “QUANTAS namoradinhas arrumou na escola,
hein?” Eu, a mãe sempre chata e problematizadora, respondia com a voz
tatibitati: “Nenhuma, né, tio! Eu sou uma criança! E criança não namora,
brinca.” Ou então: “Esse aí vai destruir o coração de muitas menininhas!”. “Não,
não vou não. Sou um menino legal e vou respeitar todas as garotas!”
A luta é inglória e
diária. Os meninos sempre ouvem que precisam namorar várias, transar com todas.
Têm sempre que “chegar junto” para provar que são homens. Bater para provar que
são machos … e não brincar de casinha para não virar gay. Pois é.
“Você deixa ele
brincar de boneca?”, perguntaram-me uma vez no playground, quando viram meu
filho feliz da vida empurrando um carrinho de boneca de uma amiguinha do
prédio. “Cuidado, hein? Desse jeito ele vai virar viado!”, comentaram depois de
ver que meu filho tinha uma pia de brinquedo. Saía água de verdade e ele
adorava lavar todos os pratinhos e xícaras que vieram com ela.
Nas duas situações
respirei fundo e argumentei: “Você não acha que se os meninos brincassem de
boneca não teríamos pais mais participativos na criação dos filhos?” “Você não
acha que se todas as crianças do mundo aprendessem a brincar de casinha desde
pequenas os homens não descobririam que cuidar da casa também é
responsabilidade deles?”
E a cereja do bolo:
“Se meu filho for gay não será porque brincou de boneca ou de lavar a louça. E
continuará a ser amado e respeitado como sempre foi.” Só ouvi silêncio. Pois é.
O silêncio chega
quando os argumentos faltam. E nós, mães de menino, assim como as mães de
menina, não podemos nos silenciar nunca.
“Para de chorar,
Samuel! Meninos não choram!”
Choram sim, filho.
Todo mundo chora. Inclusive meninos.
Dia desses ele não
quis colocar uma camisa rosa linda que ganhou do padrinho. “Rosa é cor de
menina, mamãe!”. Até então o rosa era apenas uma cor dentre várias lá em casa.
Mas, aos 6 anos, o mundo o contaminou. E não teve jeito. Eu expliquei que
meninos e meninas podiam usar todas as cores. Ele entendeu. Mas me disse que
gostava “muito, muito” da camisa azul. E colocou a azul.
¹ Fundador e Autor do Blog: Eduardo
Campos, Técnico em Gestão Pública: Pedagogo, Esp. em Docência do Ensino Superior
– PROEJA e Educação em Saúde. Pesquisador do Grupo de Estudo e
Pesquisa em Educação do Campo na Amazônia-GEPERUAZ/UFPA
² Fonte texto : R M E - Rita Lisauskas Portal
Raízes
³ Fonte imagem : http://www.intercambio7.com.br/sims-e-naos-para-seu-intercambio.jpg
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