O mais importante na vida de uma
criança é ter com quem brincar!
Luciano
Lutereau, psicanalista e pesquisador da Universidade de Buenos Aires, afirma
que as atuais opções de brinquedos e lazer dos pequenos não ajudam a
desenvolver a capacidade de elaborar conflitos.
Doutor
em Filosofia e Psicologia, o psicanalista argentino Luciano Lutereau,
pesquisador e professor da Universidade de Buenos Aires, afirma que a
melancolia sempre esteve associada à infância, mas reconhece que hoje essa
condição se faz mais presente. O autor do livro O idioma das crianças lamenta
que a brincadeira perca espaço para passatempos que são simples entretenimento,
como videogames e outros atrativos tecnológicos, o que acarreta um prejuízo à
capacidade de elaborar conflitos.
–
As crianças estão mais expostas à melancolia já que não têm como reparar aquilo
que as faz sofrer – explica Lutereau.
Os adultos têm enfrentado dificuldades
para lidar com alguns sentimentos das crianças, como a tristeza, a raiva, a
frustração?
Sem
dúvida. Hoje nos encontramos com uma particular intolerância a respeito das
emoções das crianças. Uma ideia própria da psicanálise, a de que a criança
cresce através dos conflitos, é abandonada diante da expectativa de que ela
sempre deve estar alegre. O imperativo do bem-estar, estendido à infância, leva
o adulto a se assustar e a não saber como agir em situações normais, como as
que demonstram a presença, na criança, de um sentimento de culpa inconsciente:
por exemplo, as crianças são tachadas de instáveis ou impulsivas, quando esses
estados expõem um traço particular do desejo infantil, o desejo de ser
castigado. Um grande problema do nosso tempo é a intensa vigilância da infância
em função de padrões adaptativos, como rendimento escolar, hábitos de higiene e
costumes, e não baseada em seus próprios critérios de crescimento.
Em
um artigo sobre a melancolia infantil, você escreveu que "começamos a
temer o tédio como o mais urgente de todos os males e, no caso das crianças,
nos preocupa muito mais que tenham algo para fazer do que pensar na plenitude
do que fazem". Pode falar um pouco mais sobre isso?
Hoje
em dia, parece muito mais importante ter uma vida exitosa do que uma vida
autêntica. Dito de outra maneira, a sociedade contemporânea se baseia no efeito
e não tanto no sentido. Desde muito cedo, as crianças são incluídas em práticas
que ocupam o seu tempo, sem que isso implique uma "temporalização".
Quando o tempo não está "ocupado", elas se sentem vazias e se
aborrecem. Pedem para ser estimuladas. Inclusive os pais planejam suas viagens
de férias considerando lugares que tenham recreação para seus filhos.
Na
tradição ocidental, o tédio e o aborrecimento não representaram apenas um tempo
perdido, mas também uma passagem para a lucidez e a criação. A sociedade contemporânea,
baseada na agilidade, esquece que o homem é a projeção no mundo da sua
capacidade de invenção, e isso se reflete na infância como uma perda crescente
da experiência lúdica. A brincadeira, antes de ser uma atividade, é uma ação
que a criança inventa repetidas vezes. A brincadeira é o modo como a criança se
inclui em um tempo próprio, e não uma temporalidade objetiva que prejudica o
seu desenvolvimento.
Que tipo de
mensagem o intenso consumismo de nossa época pode estar transmitindo às
crianças?
O
consumismo não tem mensagem, é uma ordem vazia de acumulação, de posse e
descarte. O principal problema da atitude consumista é quando não se vincula
apenas a objetos, mas também a pessoas. Desde pequena, a criança pode se
acostumar a tratar os outros como descartáveis e as relações humanas como
recicláveis e sem profundidade. O capitalismo atual é muito diferente daquele
que se seguiu à Revolução Industrial. A sociedade pós-moderna não é utilitária,
mas cínica, e este cinismo pode atingir as crianças se não levarmos em conta o
importante papel da educação. Por exemplo, alguém poderia dizer a uma criança
que ela não deve roubar porque pode ser presa, e isso não é mais do que um
conselho prático. Na realidade, o fundamental é ensinar que ela não deve roubar
porque assim prejudicará alguém. À moral de conveniência de nosso tempo, é
preciso voltar a se opor uma ética da lei.
Por que a tristeza
da criança é diferente da tristeza do adulto?
Porque
nas crianças a possibilidade de perda é muito mais angustiante. Um adulto já
está preparado para fazer uma relação entre o que se perde e o que permanece,
através do luto, mas a criança costuma dramatizar essas perdas como absolutas.
Além disso, a perda na infância pode acarretar um intenso sentimento de culpa –
a criança acredita que fez algo errado ou foi má.
A
maneira como os adultos devem lidar com a tristeza das crianças é no sentido de
reduzir o sentimento de culpa, permitindo que a brincadeira seja uma via de
exploração das fantasias que as afligem. Esse território intermediário
oferecido pela ficção, entre o interno e o objetivo, permite que a criança veja
que seus temores não são tão intensos e que, além disso, são passageiros. E
também que ela pode compartilhá-los com o outro sem ter medo de represálias. O mais
importante na vida de uma criança é ter com quem brincar.
¹ Fundador e Autor do Blog: Eduardo
Campos, Técnico em Gestão Pública: Pedagogo, Esp. em Docência do Ensino Superior
– PROEJA e Educação em Saúde. Pesquisador do Grupo de Estudo e
Pesquisa em Educação do Campo na Amazônia-GEPERUAZ/UFPA
² Fonte texto : R M E - Hermínio
Miranda Por:
Larissa Roso
³ Fonte imagem : http://www.intercambio7.com.br/sims-e-naos-para-seu-intercambio.jpg
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